SEGURANÇA PÚBLICA
Avião
não tripulado fornece informação precisas, antecipa investigação e reúne dados
para que 130 agentes da PF cumpram mandados de prisão e busca contra
contrabandistas.
No
chão, ele não parece nada discreto. Mas quando decola, o pequeno monomotor se
transforma em um espião silencioso.
Este
é o Vant, sigla para o veículo aéreo não tripulado, da Polícia Federal. A
missão dele: produzir imagens de pessoas e lugares suspeitos.
O
resultado, aqui embaixo, é esse: “Polícia Federal, abre a porta”, ordena um
policial federal durante uma operação.
Em
2009, o governo brasileiro comprou duas aeronaves dessas de uma empresa de Israel.
Preço total: R$ 80 milhões.
O
Vant tem quase 17 metros de envergadura, 9 de comprimento, consegue voar 37
horas seguidas, sem abastecer, a 204 quilômetros por hora e alcança uma altura
de 10 mil metros e não leva armamentos.
“Ela
é uma aeronave muito silenciosa. Tem uma câmera com uma precisão muito grande.
A gente consegue acompanhar alvos além de 10 quilômetros”, diz Álvaro Marques,
gerente do Projeto Vant.
O
Fantástico foi conhecer a estação de comando. Ela é refrigerada. Do lado
direito, tem alguns computadores, simuladores de voo e mais aqui a frente, o
piloto que basta para ele o toque, dar um clique no mouse para manter a
aeronave no ar. De outro lado, tem o operador das câmeras.
Antenas
parabólicas e um satélite fazem a conexão entre o Vant e a estação de comando.
A aeronave pode ser controlada a mais de mil quilômetros de distância. Ou seja,
de São Paulo, o piloto conseguiria comandar o avião em Porto Alegre.
Quase
tudo no Vant é automático e programado. Mesmo se houver uma falha de
comunicação, se ele perder o contato com a base, seus comandos e rotas são
pré-definidos. Ele pode voltar para casa e pousar, sem ajuda de ninguém.
Em
testes há mais de quatro anos, o Vant, finalmente, participou da sua primeira
grande operação.
Nos
últimos sete meses, a Polícia Federal investigou uma quadrilha de contrabandistas
de cigarros na região de fronteira, entre o Paraná e o Rio Grande do Sul.
Lá
do alto, o esquema foi filmado em detalhes. O espião aéreo descobriu, por
exemplo, que, por trás desse depósito, existia um longo caminho de terra usado
por veículos carregados de cigarros.
Também
identificou, uma a uma, as propriedades dos criminosos. Em sítios, o
contrabando era colocado no fundo falso de caminhões.
“Você
consegue ver a rotina dos alvos, com precisão”, explica Álvaro Marques.
Os
caminhões seguiam o mesmo percurso: da fronteira com o Paraguai até a cidade de
dois vizinhos, mais conhecida como a capital nacional do frango, no sudoeste do
Paraná, sede da quadrilha.
Depois,
o contrabando ia principalmente para Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul.
“Essas
organizações criminosas normalmente movimentam valores grandes. Uma carga de
250 caixas de cigarro pode valer até R$ 400 mil. Então, isso estimula o
ingresso principalmente dos jovens na criminalidade, aqui da região, por conta
do lucro fácil”, explica Indira Bolsoni Pinheiro, procuradora da República.
A
polícia precisava saber quem estava por trás, no comando da quadrilha, e usou
também escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça. E aí, apareceu o nome de
um Policial Civil. Investigador na cidade de dois vizinhos, Jair Roberto Pasa é
acusado de receber dinheiro para dar informações à quadrilha.
Num
telefonema, ele avisa um contrabandista que a Polícia Federal acabou de prender
um comparsa.
Jair:
Os “federal” pegaram ele, lá. Ele falou que sabe quem que é o dono do caminhão.
Contrabandista:
Mas é louco esse cara.
Jair:
Mas nem liga agora. Os “federal” tão com ele lá.
Contrabandista:
Então, tá bom.
Com
a investigação concluída, faltava prender os integrantes da quadrilha.
Madrugada
de quinta-feira passada. Da base, em São Miguel do Iguaçu, interior do Paraná,
o Vant, o veículo aéreo não tripulado, decola para o teste final.
A
cem quilômetros da base aérea, 130 agentes da Polícia Federal, estão prontos
para cumprir mandados de prisão e de busca, em quatro cidades.
O
Vant já está a caminho dos alvos. Em cascavel, a Polícia Federal se prepara
para uma viagem de quase três horas. As equipes vão sair em intervalos de 5
minutos, descaracterizadas, para evitar despertar atenção dos olheiros.
São
quase 200 quilômetros de viagem numa estrada movimentada e cheia de buracos. Já
o Vant chega rapidamente aos depósitos e aos sítios utilizados para o
contrabando.
Três agentes chegaram de
helicóptero e se escondem no mato, aguardando o melhor momento para fazer a
prisão. O Vant alerta.
Vant:
informo que, no lado oposto ao rio, do outro lado da casa, a rua que dá acesso,
tem algum animal lá, provavelmente cachorro.
Agentes:
Positivo, positivo. Tem um cão ali. A gente tá ouvindo ele latir.
Como
ainda está escuro, a aeronave usa suas duas câmeras de vídeo de alta resolução
ligadas com infravermelho. Oito acusados são presos.
O
policial civil Jair Roberto Pasa, acusado de receber dinheiro para dar
informações à organização, foi preso na casa dele. O advogado diz que “o
policial é inocente. E que conhecer pessoas investigadas não significa
cooperação nos crimes. E, que, é função de Jair Pasa se embrenhar em lugares
não muito bem frequentados para obter informações de pessoas não muito
distintas”.
No
céu, o Vant ainda trabalha: ajuda o pessoal que está neste helicóptero a descer
no lugar certo.
“Mesmo
sem conhecer o terreno, a gente tem essa vantagem tática do Vant estar
fornecendo informações precisas sobre o terreno, sobre o posicionamento dos
criminosos”, afirma Eduardo Betini, agente da Polícia Federal.
Repórter
do programa Fantástico: a gente olha pra cima e não vê o Vant mas o dia tá de
céu azul, assim.
Martin
Purper, chefe da operação: é mas o Vant está lá e estão nos observando nesse
momento. Que a ideia, é poder possibilitar a polícia um mecanismo maior. Uma outra
ferramenta de investigação.
Depois
de dez horas de voo, termina a missão.
Vant:
a base Vant agora se retira do palco das operações e retorna para a base. Uma
boa missão aí e bom retorno.
A
Justiça já bloqueou os bens da quadrilha, avaliados em R$ 10 milhões. E a
polícia se concentra agora para encontrar dois homens apontados como os chefes
dos contrabandistas: Celso Cândido da Silva, apelido: Caveira. E Claudemir
Polak Mendes, o Tenente.
As
forças de segurança das principais potências mundiais já usam aviões não
tripulados. Dos mais variados tipos e tamanhos, eles fazem de monitoramento a
incêndios a lançamento de bombas e mísseis.
Faixa
de Gaza, novembro de 2012. Ahmed Jabari: chefe militar do Hamas, a organização
radical islâmica da Palestina. Acusado de atos terroristas contra Israel, era
procurado havia pelo menos 5 anos. Foi morto quando estava dentro de um carro.
Um míssil saiu de um avião não tripulado israelense.
O
uso desses aviões é objeto de discussão. A ONU, por exemplo, investiga a morte
de civis provocada em ataques de aviões não tripulados na África e no Oriente Médio.
Outra
discussão é quanto à entrada no espaço aéreo, sem permissão dos governos
locais.
No
Brasil, o Tribunal de Contas da União questionou o valor dos dois Vants: R$ 80
milhões, e pediu ajustes nos contratos. O processo é sigiloso. Segundo a Polícia
Federal, tudo já está resolvido.
Uma das próximas missões do
espião aéreo é ajudar na segurança da Copa do Mundo.
“Realmente, vai facilitar as
investigações. Trazer mais segurança também para os próprios policiais que
estão investigando”, destaca Indira, procuradora da República.
Site de pesquisa: http://www.defesaaereanaval.com.br/?p=37463
Fonte de pesquisa: TV Globo
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