SEGURANÇA PRIVADA
Em 2009 um consultor e auditor de segurança empresarial e patrimonial Sr. Carlos Faria prestou serviços de consultoria para um condomínio residencial, formado por casas, em um pujante município do estado do Paraná. Como não poderia deixar de ser iniciou o trabalho realizando uma detalhada análise de riscos do empreendimento, com destaque para a avaliação da sua infraestrutura e elementos construtivos, paisagismo e iluminação.
O condomínio objeto do meu estudo está situado em uma região do município com grande concentração de loteamentos residenciais fechados e também propriedades rurais e uma reserva florestal, cortada por um rio e alguns riachos, além de lagos de variados tamanhos. Durante os levantamentos de campo, visualizei algumas árvores que cresceram no entorno do residencial, junto ao lado externo do perímetro, que é formado por mourões em concreto, com 2,5m de altura e cerca eletrificada e concertina em sua parte superior, formando uma barreira física considerável de 3,0m de altura e 4.000m de extensão, impondo um bom nível de dificuldade para ser transposta. As árvores que citei atingiram altura bem superior a essa barreira, algumas com 5,0m de altura e galhos grossos que se projetavam para a área interna do residencial. Importante citar que essas árvores fazem parte do projeto de paisagismo do empreendimento e não estão plantadas em área pública. Evidentemente a vulnerabilidade criada por essa situação foi muito bem descrita e enriquecida com fotos no relatório apresentado ao cliente. Recomendei a transferência dessas árvores para outra área do residencial e assim eliminaríamos esse perigo, mas nem sempre as coisas se desenvolvem com essa facilidade. A transferência de uma árvore só pode ser feita com autorização da prefeitura, após um lento processo burocrático, sendo que os custos da operação são integralmente pagos pelo condomínio. A situação ganhou complexidade quando o departamento jurídico identificou no Estatuto de constitu-ição do empreendimento, que alterações desse tipo necessitavam de aprovação em Assembleia Geral. A estimativa de tempo para resolução do problema, considerando todas essas etapas, foi estabelecido em, no mínimo, 12 meses. Alguns membros da diretoria do residencial julgaram como um excesso de pessimismo a vulnerabilidade apontada, afirmando que era uma possibilidade improvável. Com a diretoria “rachada” a tomada de decisão se alongou por semanas. Cinco meses após a apresentação do relatório fui informado de que uma residência havia sido roubada por dois marginais armados. Toda a família estava em casa e passou pouco mais de uma hora sob ameaça, o que é uma eternidade para quem está nessa condição. Os assaltantes saíram pela portaria do residencial, com um carro das vitimas. A polícia foi acionada e apurou que os mesmos invadiram o residencial escalando uma árvore e saltando sobre a barreira perimetral. Ficaram por algum tempo homiziados no bosque e invadiram a residência sem serem notados pelos vigilantes armados, em ronda motorizada. Essa história não é uma ficção, aconteceu de verdade e certamente não é um fato isolado. O que deu causa a ocorrência de roubo não foi a vulnerabilidade no perímetro, pois já existia há anos, mas a demora na tomada de decisão. A inércia dos dirigentes do residencial foi determinante para que o risco se concretizasse. Tiveram a chance de evitar a ocorrência e não o fizeram. Atualmente corre um processo na justiça em que a família pede indenização do residencial por danos materiais e morais, haja vista que a vulnerabilidade já havia sido identificada e nenhuma ação foi adotada para ao menos minimizá-la. A ocorrência foi amplamente divulgada na cidade, causando danos à imagem do residencial e até mesmo uma desvalorização momentânea dos imóveis em comercialização. O clima interno ficou péssimo entre os moradores e a empresa que prestava serviços de vigilância patrimonial foi injustamente responsabilizada pelo infortúnio. Fatos como esse tendem a se repetir e o profissional de segurança precisa ampliar a sua visão ao projetar as consequências da materialização de um risco para melhor persuadir os dirigentes a tomar as decisões de mitigação de riscos em tempo hábil. Pesquisar casos verdadeiros de ocorrências que se sucederam em condições de vulnerabilidade semelhantes as do objeto de estudo também contribui para uma visão mais realista do risco. Em tempo: Fui convocado como testemunha do morador, no processo contra o condomínio. A sentença em primeira instancia foi favorável ao morador. O condomínio recorreu, mas deve perder a ação.
Autor: Carlos Faria, ADS, ASE É consultor e Auditor em Segurança Empresarial e Patrimonial
Contato: faria@carlosfaria.com.br
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