SEGURANÇA PRIVADA
Os profissionais que deveriam cuidar da
segurança patrimonial acabam fazendo atendimento direto ao usuário. Muitas
empresas em vez de contratar um vigilante acaba contratando um vigilante
multifuncional, e acaba esquecendo que segurança é coisa séria, veja na matéria
a seguir o que ocorre quando o vigilante
desvia de suas funções.
É recorrente entrar em órgãos públicos no
Distrito Federal ou qualquer estado brasileiro
e ser recepcionado por um vigilante que dá as coordenadas para onde se
deseja chegar ou sobre o serviço pretendido, bem como organiza filas, entrega
senhas, atende ao telefone e faz cadastro de visitantes. Nos hospitais, o senso
de humanidade fala mais alto e eles (os vigilantes) também correm para ajudar
os doentes e acidentados que chegam. Na falta de recepcionistas, eles fazem o
trabalho burocrático e, em alguns órgãos, podem ser vistos atrás de
computadores em guichês instalados na entrada dos edifícios.
O presidente do Sindicato das Empresas de
Segurança Privada, Sistemas de Segurança Eletrônica, Cursos de Formação e
Transporte de Valores no DF (Sindesp-DF), Irenaldo Pereira Lima, confirma que
muitos vigilantes acabam desempenhando outras funções além daquelas para as
quais foram contratados. “Quando a gente ganha a licitação do órgão é para
fazer a segurança patrimonial. Só que quando se chega hoje em hospitais, postos
de saúde, departamentos de trânsito e nos ministérios, o que se vê é o
vigilante atrás de um balcão passando informações. Acho que isso não é fazer
segurança”, argumenta. Ele acredita que o desvio de função decorre tanto da
falta de pessoal para o atendimento ao usuário como pela falta de um plano de
segurança.
Irenaldo destaca a preocupação com a condição
do vigilante, pois muitas vezes eles podem estar deixando de lado suas
atribuições principais e isso pode trazer consequências. “O vigilante, em vez
de fazer a segurança do patrimônio do local, está ali distribuindo uma senha,
passando uma informação. Em hospital eles distribuem senha e quando chega uma
ambulância e não tem o maqueiro, aí eles ajudam a fazer o socorro de quem
chegou. Se ele não fizer, não ajudar o doente, ele pode responder por omissão
de socorro. É tanta coisa que está errada que a gente não sabe mais o que
fazer”, observa.
Entre as preocupações com o desvio de função
do vigilante está o porte de arma. Quando um vigilante armado está num hospital
e vai ajudar a retirar uma maca da ambulância, ele pode ficar vulnerável e ver
tomada sua arma, o que pode oferecer grande perigo para as pessoas no local.“E
se acontecer algum sinistro ali enquanto o vigilante está com a maca na mão? E
se enquanto ele está ajudando o doente alguém chega e toma aquela arma dele?
São situações preocupantes”, atenta.
Para o presidente do Sindesp-DF, antes de
fazer uma licitação, os órgãos públicos deveriam exigir a elaboração de um
plano de segurança para, a partir daí, ter a real estimativa do quantitativo
necessário e também da forma do serviço de segurança a ser prestado conforme a
necessidade específica do órgão. “A gente tem feito essa denúncia para o
sindicato laboral, que é o sindicato da categoria. É preciso deixar o vigilante
fazer o seu serviço mesmo. São coisas que até as pessoas que fazem a
contratação têm que compreender que os vigilantes estão ali para fazer a
segurança patrimonial e não esse desvio de função que existe”, aponta.
O dirigente sindical afirma que vem
solicitando aos sindicatos, aos gestores de contrato e até da federação que
reúne os sindicatos de segurança no país, para que seja elaborado um documento
direcionado aos órgãos públicos alertando para a necessidade de que todos façam
um plano de segurança. “Se eu faço um plano de segurança e o órgão aceita
aquele plano, então se assume a obrigação de cumpri-lo e isso evita desvio de
funções”, analisa.
Hoje, nos editais de licitação dos serviços
de segurança patrimonial é requerido das empresas interessadas em participar
que façam uma vistoria no local de prestação do serviço a fim de conhecerem a
dificuldade do local e aceitá-la, quando na verdade deveria ser cobrada a elaboração
do plano de segurança.
A falta do plano de segurança e os
recorrentes desvios de funções colocam as empresas de segurança em situação de
risco nos contratos com órgãos públicos, visto que em caso de sinistro, que
seriam as ocorrências relativas à segurança, as empresas estão arcando com as
responsabilidades sozinhas.
A falta da participação de um gestor de
segurança na elaboração dos editais e no levantamento das necessidades é outro
problema sério enfrentado pelas empresas. “Hoje os órgãos lançam edital
estabelecendo quantitativos que a gente não sabe de onde veio. Simplesmente
eles soltam um edital e a gente participa”, conta.
Segundo o dirigente da Sindesp-DF, Brasília
possui 68 empresas de segurança pública e privada sendo que, dessas, 32 são
filiadas a esse sindicato.Vigilantes x recepcionistas No Sindicato dos
Vigilantes do DF, o presidente Jervalino Rodrigues Bispo contesta o desvio de
função e, pelo contrário, afirma que muitos recepcionistas hoje vêm assumindo
funções que seriam de exercício dos vigilantes. “Vários órgãos estão fazendo o
seguinte: tirando os vigilantes, que são qualificados para fazer segurança no
local, e colocando recepcionistas, onde a função do recepcionista é a mesma do
vigilante e a recepcionista não está qualificada para fazer aquele trabalho. A
gente vem brigando e está com essa demanda”, observa o dirigente.Sobre as
denúncias de desvio de funções, Jervalino considera muito difícil isso
acontecer tendo em vista que a orientação do sindicato é de que os vigilantes
não têm nenhuma obrigação de fazer outra função no local além da sua, e são,
inclusive, proibidos disso. No entanto, o sindicalista afirma que as funções do
vigilante depende do local em que ele está alocado. “Se for um serviço de
portaria de verificar a entrada e saída, isso está correto. Agora se for num
local de fazer segurança, ele não pode fazer outra coisa. Tem local em que o
vigilante fica ali para manter a ordem de entrada e saída, e ele tem que
identificar a pessoa e para ele identificar ele precisa saber quem entrou e que
horas entrou”.Nos hospitais, Jervalino admite que é mais difícil conter a
possibilidade de um vigilante desviar de função. “Ali acontece sempre porque às
vezes o doente chega e não tem ninguém para receber e o vigilante está ali
solidário com aquela pessoa e acaba prestando alguma assistência para não
deixar aquela pessoa morrer ali fora”, explica. Apesar de o sindicato
compreender a posição do vigilante e buscar meio de protegê-los nesses casos, a
orientação dada é de que os vigilantes não façam isso. “A gente sempre diz:
evite sair do seu posto. Mas você sabe como é ser humano, procura sempre uma
forma de aliviar o sofrimento do outro. Mas a gente orienta para ter cuidado
nessa hora de trabalho”, destaca.O presidente do Sindesv-DF concorda que é
necessário que a empresa contratada tenha um plano de segurança para o órgão,
assim saberá com maior efetividade quantas pessoas são suficientes para fazer a
segurança naquele local e quais as necessidades da segurança ali. “Contratar o
vigilante para um local onde a pessoa que está contratando não sabe nem para
que e nem porque, é em vão o serviço e acontece demais. Às vezes tem um local
perigoso que tem que colocar cinco ou seis vigilantes, mas eles contratam
somente um”, argumenta.O deputado distrital Chico Vigilante (PT) acredita que
não há desvio de funções dos vigilantes nos órgãos públicos. Para ele, o que
acontece é uma colaboração no atendimento aos usuários. Para o parlamentar, é
perfeitamente natural ao vigilante ter que proceder cadastro de entrada e saída
de pessoas, pois isso faz parte da função do vigilante que consiste, entre
outras coisas, de observar, saber quem vai entrar e quem sai.
Veja também a matérias - Ser um
vigilante prestativo ou ostensivo? e Vigilantes e relação com os clientes.
Fonte:www.viaseg.com.br
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